O Guarda Hunton chegou à lavanderia quando a ambulância já partia ― devagar, sem sereias ou luzes piscando. Mau presságio. Lá dentro, o escritório estava abarrotado de pessoas inquietas e caladas, algumas das quais choravam. A lavanderia propriamente dita estava vazia; as grandes lavadoras automáticas na extremidade oposta nem mesmo tinham sido fechadas. Aquilo fez Hunton ficar muito atento. A multidão devia estar no local do acidente, não no escritório. Era o que costumava acontecer: o animal humano possuía uma compulsividade inata para ver os restos mortais. Então, fora coisa muitíssimo séria. Hunton sentiu um aperto no estômago, como sempre acontecia quando o acidente era muito grave. Quatorze anos de remover restos humanos de rodovias, ruas, sarjetas em frente a arranha-céus altíssimos não haviam conseguido eliminar aquela leve contração na barriga, como se alguma coisa maléfica se tivesse coagulado ali.
Um homem de camisa branca avistou Hunton e se encaminhou para ele com relutância.
Era um touro de um homem, com a cabeça atirada para frente entre os ombros, nariz e bochechas riscadas por vasos sangüíneos dilatados pela pressão alta por demasiada intimidade com a garrafa. Tentou articular palavras, mas, após a segunda tentativa, Hunton interrompeu-o vigorosamente: