segunda-feira, 27 de outubro de 2014

A Boneca dos Sonhos





 Era tarde da noite… Na verdade já era madrugada. Dia comum como os outros, com um pouco de chuva. Estava sem sono, achei melhor ir à cozinha preparar um chá e ler um livro para ver se o sono aparecia. Afinal moro sozinho.

Enquanto bebia o chá e lia, pensei ter ouvido um barulho no sótão, pensei: “tomara que não seja uma telha quebrada novamente!” Me levantei e subi até lá com uma lanterna. Olhei por todo o lugar e parecia tudo em ordem, então, quando fui descer de lá, alguma força misteriosa fechou a entrada e a trancou por fora. Entrei em pânico e não sabia o que fazer, ainda para o meu azar, a lanterna de algum modo (que não tenho a mínima ideia de como) se apagou. Pensei: “E agora? Deve haver alguma vela e fósforos por aqui…” Comecei a procurar ambos então.

Enquanto vasculhava o sótão… Ouvi uma batida na janela. Me virei e olhei para ela e: “Maldito corvo!” Um corvo havia batido seu bico no vidro da janela em busca de abrigo da chuva e a abriu. Isso me assustou muito. “Como um corvo pode abrir uma janela com apenas uma bicada?” Disse eu. Fechei-a novamente e quando me virei… Havia uma boneca de pano atrás de mim naquele chão de madeira me observando!

Tentei gritar, mas a voz não saiu! Ela era horrível! Suja, feia, olhos de botão, mal costurada e parecia que estava viva! Pensei: “Deixe disso! Que bobagem!” Voltei-me para a porta do sótão com uma vela na mão e estranhamente, a porta, desta vez estava aberta, mas estava tão abalado com aquela boneca que nem reparei. No momento em que a vi, entrei em uma profunda tristeza. Como se naquele rosto mal costurado estivesse presente toda a tristeza do mundo.

Me senti mal, chorei, comecei a ouvir vozes repetitivas na minha cabeça, que me mandavam acabar com a minha vida ali mesmo, comecei a lembrar de todas as coisas horríveis que aconteceram na minha vida, lembrei-me de quando perdi meus pais e julguei ser minha culpa, lembrei-me de quando minha esposa morreu e pensei: “É tudo culpa minha! Eu não mereço viver!

Eu tenho que morrer”. Tranquei-me no banheiro, olhei-me no espelho e pensei: “Devo estar ficando maluco”. Abaixei a cabeça, molhei o rosto e fiquei com os olhos fechados por um momento, quando voltei e olhei para o espelho novamente… Lá estava ela! Olhei para o espelho e lá estava o reflexo dela! Gritei: “Me deixe em paz! Saia daqui!” Saí correndo por todos os lados da minha casa, mas ela estava em toda parte! Rindo e zombando de mim, me fazendo lembrar do passado e dizendo para eu me matar.
Desisti! Caí no chão e fechei os olhos. Senti o chão tremer, olhei em volta e ele rachou e eu caí… Comecei a gritar e quando olhei para baixo, vi um rio de fogo… Estaria eu indo para o inferno? Não sabia eu… Só sabia que era ela! Era ele de novo! Estava me puxando para baixo naquele rio de fogo. Criatura das trevas! Tentei lutar, mas não consegui! Caí…
Entrei naquele rio de fogo. Mas por um instante, tudo escureceu… E acordei! Olhei para o lado… lá estava minha xícara de chá, meu livro sobre meu colo, estava eu deitado no sofá, olhando a chuva cair na janela… e aí caí na real… Foi tudo um sonho…


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